Resenha | O que não existe mais, de Krishna Monteiro

O que não existe mais
Autor: Krishna Monteiro
Editora: Tordesilhas
Páginas: 112
Compre pela Amazon: amzn.to/2trUTeJ

Hoje é dia de falar da nova literatura nacional aqui no Valeu, Gutenberg!. A resenha desta quarta-feira é sobre O que não existe mais, livro de estreia do diplomata Krishna Monteiro. Lançada em 2015, a obra foi finalista do Prêmio Jabuti na categoria “Contos e crônicas” no ano seguinte. Recebi o livro por cortesia da agência literária Oasys Cultural.

Ausência que permanece

O que não existe mais é um livro curto, porém profundo. Em seus sete contos, Krishna Monteiro escreve sobre a memória, a perda, a vida e a morte. Os personagens das histórias precisam encarar pessoas, coisas ou situações que pertencem ao passado, mas que continuam influenciando e afetando o presente.

O primeiro conto, que dá título ao livro, é o meu favorito. Nele, o narrador se depara com o fantasma do pai morto e se dá conta de que, mesmo que o pai não tenha mais uma presença física, ele continua existindo. O narrador seguiu morando na casa onde viveu com o pai, e os cômodos e objetos do lugar fazem com que ele se lembre dele continuamente. Além disso, ao se olhar no espelho, ele não pode fugir da herança genética que o pai deixou nele.

O escritor paranaense Krishna Monteiro.

Falando em marcas, Krishna Monteiro não esconde a influência de Guimarães Rosa, embora não se utilize de neologismos. O escritor mineiro aparece como espectro/personagem em As encruzilhadas do doutor Rosa, no qual o narrador descreve, em linguagem onírica, seu primeiro contato com a obra dele. É impossível não se lembrar também de Guimarães Rosa em dois contos que são narrados do ponto de vista de animais: Quando dormires cantarei (cujo protagonista é um relutante galo de briga) e Um âmbito cerrado como um sonho (no qual um gato presencia uma experiência mística após a morte de sua dona).

O que não existe mais é completado pelo ótimo Monte Castelo (o conto mais longo do livro, no qual o narrador descreve a convivência com o avô, um veterano da Segunda Guerra Mundial), O sudário (texto dirigido para uma pessoa prestes a cometer suicídio) e Alma em corpo atravessada (que encerra o volume e revela uma inesperada conexão entre algumas das histórias do livro).

Trecho de “O sudário”, presente na contracapa do livro.

Sonho ou realidade?

O estilo de Krishna Monteiro é muito delicado e poético, e exige atenção do leitor. Pouca coisa é revelada explicitamente, e várias são as referências à neblinas e crepúsculos. Em muitas passagens, é difícil saber se os personagens estão realmente vivenciando aquelas situações ou se estão sonhando. Não há humor no livro, que é coberto por uma nuvem de melancolia.

O que não existe mais tem uma força sutil, e nem parece ser de um autor estreante. Alguns contos são melhores do que outros, mas o conjunto impressiona. As epígrafes escolhidas por Krishna Monteiro mostram qual é seu território (Borges, Clarice, Drummond) e sua carreira literária merece ser acompanhada de perto.

AVALIAÇÃO

4-estrelas-2

Fotos: Lucas Furlan, exceto imagem Krishna Monteiro (extraída da internet).

3 comentários em “Resenha | O que não existe mais, de Krishna Monteiro

Deixe seu comentário